segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uso de Tochas e Incenso na procissão do Evangeliário


Luzes e incenso
Ao comentar a solenização da proclamação do Evangelho, nota M.Denis-Boulet: “Todas as liturgias do Oriente e do Ocidente fazem preceder a leitura de uma procissão: as luzes e o incenso honram o deslocamento do livro, como na procissão de entrada honravam o pontífice, e pelo mesmo motivo: um e outro representam Jesus Cristo”.

As velas que acompanham a procissão do Evangelho

Tradição bíblica
Na Tenda de Reunião (que outrora havia sido o santuário itinerante por ocasião da estada no deserto do Êxodo) acendia-se uma lâmpada para queimar “diante do Senhor” (Ex 27,20-21; cf. Lv 24,2-4). Ali encontrava-se também o candelabro de ouro, de sete braços (Ex 25,31-40; cf. 37,17-24), que mais tarde tornou-se o próprio símbolo de Israel.
No Apocalipse, João conservou as imagens da lâmpada e do candelabro, embora mudando seu simbolismo. Assim, contempla, na visão inaugural, o Cristo ressuscitado, tendo em sua mão direita “os sete candelabros de ouro, que são as sete Igrejas”, às quais vai dirigir suas cartas. Ele vê também as sete lâmpadas de fogo queimarem diante do trono erguido no céu. São, explica ele, “os sete Espíritos de Deus”.

Tradição litúrgica
Na antiga liturgia romana, as tochas ou velas constituem muito naturalmente uma escolta de honra. Sete tochas acompanhavam a entrada solene do bispo e do Evangeliário. Essas sete tochas ou velas formarão uma coroa de honra em torno do altar; depois, reduzidas a seis (por causa da simetria), serão colocadas sobre o altar. Os dois castiçais que subsistiram para os dois acólitos do rito romano são um testemunho desse antigo esplendor da procissão do Evangeliário.
A luz é também símbolo de Deus. Esse simbolismo culmina no Novo Testamento com a afirmação de Jesus: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12). Por ocasião da festa dos Tabernáculos, instalavam-se no templo de Jerusalém, no átrio das mulheres, quatro imensos candelabros, e seu fulgor era tão grande, dizia-se, que iluminava todo o interior da Cidade santa. É nesse contexto que Jesus afirma que Ele é não somente a luz do seu povo, mas ainda a luz do mundo.
Na procissão do Evangeliário, o simbolismo da luz é múltiplo.

·        A luz presta honra à dignidade do Evangeliário e, através dele, venera o Cristo.
·        Simboliza o próprio Cristo que o Evangelho proclama “luz do mundo”.
·        Lembra também, sobretudo no círio pascal, a Ressurreição do Cristo. É à luz do Ressuscitado que se proclama o Evangelho.
·        Significa enfim a espera do Dia eterno em que a Igreja inteira será transfigurada pela luz do Cordeiro (Ap 22,23).
Contemplando a luz e ouvindo as palavras de Cristo, os cristãos oram para que sua própria vida se torne Evangelho e cada um deles, como e com o Cristo, “luz do mundo” (Mt 5,14).

O incenso

Tradição bíblica
A exemplo das antigas religiões orientais, Israel utilizou largamente o incenso em seu culto. No Templo de Salomão, o altar dos perfumes se erguia diante do Santo dos Santos. Aí se fazia queimar o incenso duas vezes ao dia, à tarde e pela manhã. Era o símbolo da oração que sobe para o trono de Deus como sacrifício de louvor.
Esse altar de ouro é transportado ao céu para a liturgia celeste conforme o Apocalipse. Vê-se aí o anjo colocado a serviço do altar dos perfumes a oferecer ao mesmo tempo os perfumes e as orações dos santos sobre o altar de  ouro colocado diante do trono do céu. Ali se contemplam também os vinte e quatro Anciãos – sem dúvida os justos do Antigo Testamento – acompanhados pela harpa, cantarem o cântico novo e oferecerem as taças cheias de perfumes, que são as orações dos santos (Ap 5,8 e 8,3-4).

Tradição litúrgica
Com um passado tão rico sob o plano bíblico, incenso terá facilmente encontrado porta aberta para entrar no culto cristão. Mas o fato de que os cultos idólatras o utilizavam largamente pôde suscitar na consciência cristã desagradáveis lembranças. Quanto ao Oriente, o primeiro testemunho que temos parece ser no século IV. O incenso ali era utilizado precisamente por ocasião da proclamação do Evangelho. Ao descrever a liturgia da vigília dominical na Igreja da Ressurreição em Jerusalém, a peregrina Etéria conta: “São trazidos os turíbulos à gruta da Anastasis e toda a basílica transborda de aromas. Então, de pé, além do gradil, o bispo toma o Evangelho, aproxima-se da porta e lê, ele mesmo, a ressurreição do senhor”.
No ocidente, é preciso esperar os Ordines Romani dos séculos VII e VIII para ver mencionado o uso do incenso. É levado diante do papa e por ocasião da procissão do Evangelho.
Levando o incenso a frente do Evangeliário, a comunidade quer significar que prepara à Palavra de Jesus um caminho de perfume. Ao incensar o próprio livro, ela significa a veneração e a oração que lhe oferece. Do mesmo modo que os Magos, quando encontraram o Menino-Rei, se prostraram diante dele num gesto de adoração, e lhe ofereceram ouro, incenso e mirra, assim a comunidade cristã que encontrou o Messias-Salvador no Evangelho oferece-lhe o incenso de sua oração e de sua adoração.

Sugestões pastorais
Luzes
O simbolismo da luz é fácil de se perceber. A procissão com as luminárias é fácil de se realizar. A cada Domingo, dia do Ressuscitado e festa semanal dos cristãos dever-se-ia aproveitar. Enriquecerá com uma nota alegre e festiva a proclamação do Evangelho. Jerônimo (Ϯ 419/420) dá o seguinte testemunho para sua época: “Em todas as igrejas do Oriente, quando se deve ler o Evangelho, acendem-se as luzes, mesmo que o sol já esteja brilhando. Não é para afugentar as trevas, mas para dar um sinal de alegria”. Esse sinal de alegria é sempre válido para o nosso tempo.
Quanto ao círio pascal, perto do ambão, lembrará à comunidade que o anúncio do Evangelho se faz à luz da Ressurreição. Só o Ressuscitado pode abrir nossos corações à compreensão da Palavra.

Incenso
A oferta de incenso é considerada em alta estima nas liturgias orientais com também nos países do Extremo Oriente. Ela aí encontra de modo pleno o seu lugar. Não se deve forçar uma explicação forçada sobre o seu significado porque, se não houver uma secreta conivência entre a comunidade e os sinais que ela utiliza, cai-se facilmente na emboscado do ritualismo. Um sinal é tanto mais eloquente quando não há necessidade de falar para explicá-lo, quando ele é compreendido instintivamente.

É inútil acrescentar que, se se utiliza o incenso, é preciso fazê-lo com generosidade. Que o turíbulo fumegue com a alegria, que o fogo seja generoso, que o incenso seja bem perfumado e se irradie sobre a assembléia!  Um insignificante grão de incenso colocado sobre um carvão preguiçoso e agonizante não resolve nada. Se o rito for sem vida, não tem mais força para falar.

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