por diácono Jesus de Aguiar Silva
(reflexões no encontro diocesano de Liturgia - 17 de julho de 2012)
A Liturgia aponta para Cristo
Na
liturgia celebramos o Misterium-Sacramentum.
Ao longo do tempo ambos tiveram o mesmo significado até que separaram-se os
sentidos, assim Mysterium adquiriu
conotação de mistério
(revelado-escondido), enquanto Sacramentum
denotou sinal da presença do Cristo na vida humana. Afinal de contas o que
celebramos? A presença de Deus na história que se deu por meio de seu Filho
amado, Jesus. Dessa forma, em cada missa celebramos a memória (anamnese)
da única oferta e o sacrifício de Jesus Cristo (Verbo feito carne) para
salvação da humanidade, ele é o caminho, verdade e vida. É Jesus quem nos
revela o Pai por meio de seu Espírito, é como repetimos em cada missa na
doxologia “por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós Deus Pai todo-poderoso na
unidade do Espírito Santo, toda honra e
toda a glória, agora e para sempre. Amém”.
O
Evangelho de João apresenta Jesus como “Palavra/Luz” (cf. Jo 1,1.5) presente
desde a origem do mundo, e que tomou forma humana como nos descreve a Escritura
nos dizendo sobre a missão de Cristo
“que nos amou ao extremo” (cf. Jo 13,1), e que saiu de Deus e para ele
retornou (cf. Jo 13,3). É esse Mistério
que celebramos, a Palavra de Deus encarnada e que dá sentido a vida humana. Só
conhecemos o Pai, porque o Filho nos revelou. Jesus é o belo pastor que nos
apresenta a beleza que provém de Deus.
O
homem: Com a sua abertura à verdade e à beleza, com o seu senso do bem
moral, com a sua liberdade e a voz da sua consciência, com a sua aspiração ao
infinito e à felicidade, o homem se interroga sobre a existência de Deus.
Nestas aberturas percebe sinais da sua alma espiritual. Como “semente de
eternidade que leva dentro de si, irredutível à só matéria”, sua alma não pode
ter sua origem senão em Deus.[1]
A
Liturgia (rito) e os fieis na hodiernidade
Durante
a liturgia ocorre um diálogo entre Deus e o ser humano, há momentos durante a
missa em que ouvimos a Deus (por meio do presbítero – que é a pessoa de
Cristo – e dos demais ministros) e existem momentos que respondemos a Deus
por meio das orações. Assim, dentro do culto temos a mesa da Palavra e a mesa
da Eucaristia.
A
Igreja é anunciante desta Palavra, de maneira particular na liturgia, onde no
Centro está o grande Mistério Pascal, nEle estão intimamente ligados todos os
mistérios de Cristo. Assim, Palavra e Sacramento estão sempre juntos, “pois não
há separação entre o que Deus diz e faz”[2].
Nesse
sentido, celebrar esse Mistério (que é o próprio Jesus), requer que o façamos
com beleza interior e que também implica
dizer que nossas expressões e externalizações durante a celebração devam ser
permeadas de uma estética, que reluza uma beleza que se encontra em dois
atributos humanos: simplicidade e sinceridade.
Na
estrutura da missa temos: Entrada
(dá início a celebração / introduz ao Mistério
a ser celebrado), Saudação (o Presbítero inicia com o beijo o
altar / saúda o povo), Ato
Penitencial (momento de reconhecermo-nos arrependidos para celebrar o
Mistério), Senhor, tende piedade (imploramos a misericórdia de Deus), Glória
a Deus nas Alturas (glorificamos e
suplicamos a Deus Pai e ao Cordeiro através do Espírito Santo), Oração do
Dia – Coleta – (Somos convidados a rezar em silêncio), Liturgia da
Palavra (Deus fala ao povo, é o alimento espiritual que é a própria Palavra
– é necessário o silêncio para favorecer a meditação -), Profissão de Fé
(tem por objetivo nos levar a responder à Palavra de Deus), Oração Universal
(Oração dos fieis, em que rezamos pela Igreja, pelos governantes, pelos que
sofrem, por todos seres humanos e pela salvação do mundo inteiro) ||
Liturgia Eucarística (Recebe-se o
pão e o vinho, símbolo do sacrifício de Cristo instituído na ceia pascal,
sacrifício de Jesus na Cruz, que se entregou aos seus discípulos para que o
fizessem em sua memória), Oração Sobre as Oferendas (conclui a
preparação dos dons – pão e vinho – fruto do suor humano que são apresentados
ao Senhor), Oração Eucarística (centro e ápice da celebração, prece de
ação de graças e santificação. Exige-se silêncio, alguns elementos: Ação de
graças, aclamação, epiclese, narrativa, anamnese, oblação, intercessões,
doxologia), Rito da Comunhão (Corpo e Sangue de Cristo seja recebido
pelas pessoas preparadas), A Oração do Senhor (pede a purificação dos
pecados, a fim de que as coisas santas sejam verdadeiramente dignas de serem
recebidas por nós), Rito da Paz (implora a paz e a comunhão eclesial,
antes de comungar do Sacramento), Fração do Pão (gesto realizado por
Cristo na última ceia, relembra-nos comunhão no único pão da vida, que é o próprio Cristo), Comunhão (tanto o
presbítero como o povo recebe o Corpo e Sangue de Cristo), Ritos de
Encerramento (breves comunicações, saudação e benção, despedida do povo,
beijo no altar).[3]
Considerações
finais sobre o rito e a utilização de multimídia
Como
vimos acima a missa possui uma estrutura e esta é acompanhada de alguns
elementos que podem ou não ajudar: folhetos ou multimídia. E é sobre isso que
vamos falar agora: Quando usar o multimídia, em que momentos?
Diante
do que percebemos na descrição do rito da missa, há momento para o povo
responder, há momentos para silenciar e há momentos para contemplar.
Assim,
seguem-se algumas sugestões para ajudar a viver melhor o Mistério na liturgia:
1)
Uso
de Multimídia: Entrada,
Oração Universal, Ritos de Encerramento e durante os cantos, ou numa
para-liturgia (eventual).
2)
Momento
de silêncio/contemplação (ouvir/rezar no coração):, Liturgia da Palavra, Liturgia
Eucarística, Sobre as Oferendas, Oração Eucarística, , Comunhão, Ritos de
Encerramento.
3)
Expressão
(participação dizível):
Saudação, Ato Penitencial, Glória a Deus nas alturas, Profissão de fé, Oração
Universal, Oração do Senhor, Rito da Paz, Ritos de Encerramento. Obs.: E os
amém (s) em outros momentos.
Diante
do que foi descrito, qual a finalidade de tentar expressar aqui
sistematicamente os momentos? Justamente para nos ajudar a rezarmos com mais
qualidade. Os gregos, principalmente na filosofia Platônica, almejavam a ideia
do belo, do justo e do verdadeiro, Aristóteles dizia da busca humana pela
felicidade (eudaimonia). Assim, ao celebrarmos o Mistério, nos deparamos
com todas essas realidades apresentadas pelos sábios gregos. Em Cristo está a
nossa realização, mas pra tudo na vida há ambiências diferentes. Da mesma forma
que num velório implica “um momento fúnebre”, o aniversário denota “alegria,
festa”, ao nos prepararmos para dormir “silêncio”, o Mistério por meio da
liturgia pede-nos “respeito pelos
diversos momentos nele contidos”.
Portanto,
o uso de multimídia na celebração pode “ser bom” quando respeita as normas
litúrgicas e “mau” quando não colabora para a vivência do Mistério dentro do
culto. Saibamos utilizar com prudência que certamente os frutos virão ao seu
tempo.
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