quarta-feira, 20 de junho de 2012

reflexões sobre o uso do projetor multimídia na Liturgia


por diácono Jesus de Aguiar Silva 
(reflexões no encontro diocesano de Liturgia - 17 de julho de 2012)          
 
 A Liturgia aponta para Cristo
 
            Na liturgia celebramos o Misterium-Sacramentum. Ao longo do tempo ambos tiveram o mesmo significado até que separaram-se os sentidos, assim Mysterium adquiriu conotação de mistério (revelado-escondido), enquanto Sacramentum denotou sinal da presença do Cristo na vida humana. Afinal de contas o que celebramos? A presença de Deus na história que se deu por meio de seu Filho amado, Jesus. Dessa forma, em cada missa celebramos a memória (anamnese) da única oferta e o sacrifício de Jesus Cristo (Verbo feito carne) para salvação da humanidade, ele é o caminho, verdade e vida. É Jesus quem nos revela o Pai por meio de seu Espírito, é como repetimos em cada missa na doxologia “por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós Deus Pai todo-poderoso na unidade do Espírito Santo, toda honra  e toda a glória, agora e para sempre. Amém”.
            O Evangelho de João apresenta Jesus como “Palavra/Luz” (cf. Jo 1,1.5) presente desde a origem do mundo, e que tomou forma humana como nos descreve a Escritura nos dizendo sobre a missão de Cristo  “que nos amou ao extremo” (cf. Jo 13,1), e que saiu de Deus e para ele retornou (cf. Jo 13,3).  É esse Mistério que celebramos, a Palavra de Deus encarnada e que dá sentido a vida humana. Só conhecemos o Pai, porque o Filho nos revelou. Jesus é o belo pastor que nos apresenta a beleza que provém de Deus.
            O homem: Com a sua abertura à verdade e à beleza, com o seu senso do bem moral, com a sua liberdade e a voz da sua consciência, com a sua aspiração ao infinito e à felicidade, o homem se interroga sobre a existência de Deus. Nestas aberturas percebe sinais da sua alma espiritual. Como “semente de eternidade que leva dentro de si, irredutível à só matéria”, sua alma não pode ter sua origem senão em Deus.[1]

            A Liturgia (rito) e os fieis na hodiernidade
 
            Durante a liturgia ocorre um diálogo entre Deus e o ser humano, há momentos durante a missa em que ouvimos a Deus (por meio do presbítero – que é a pessoa de Cristo – e dos demais ministros) e existem momentos que respondemos a Deus por meio das orações. Assim, dentro do culto temos a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia.
            A Igreja é anunciante desta Palavra, de maneira particular na liturgia, onde no Centro está o grande Mistério Pascal, nEle estão intimamente ligados todos os mistérios de Cristo. Assim, Palavra e Sacramento estão sempre juntos, “pois não há separação entre o que Deus diz e faz”[2].
            Nesse sentido, celebrar esse Mistério (que é o próprio Jesus), requer que o façamos com  beleza interior e que também implica dizer que nossas expressões e externalizações durante a celebração devam ser permeadas de uma estética, que reluza uma beleza que se encontra em dois atributos humanos: simplicidade e sinceridade.
            Na estrutura da missa temos:  Entrada (dá início a celebração / introduz ao Mistério  a ser celebrado), Saudação (o Presbítero inicia com o beijo o altar / saúda o povo),  Ato Penitencial (momento de reconhecermo-nos arrependidos para celebrar o Mistério), Senhor, tende piedade (imploramos a misericórdia de Deus), Glória a Deus  nas Alturas (glorificamos e suplicamos a Deus Pai e ao Cordeiro através do Espírito Santo), Oração do Dia – Coleta – (Somos convidados a rezar em silêncio), Liturgia da Palavra (Deus fala ao povo, é o alimento espiritual que é a própria Palavra – é necessário o silêncio para favorecer a meditação -), Profissão de Fé (tem por objetivo nos levar a responder à Palavra de Deus), Oração Universal (Oração dos fieis, em que rezamos pela Igreja, pelos governantes, pelos que sofrem, por todos seres humanos e pela salvação do mundo inteiro) || Liturgia Eucarística (Recebe-se  o pão e o vinho, símbolo do sacrifício de Cristo instituído na ceia pascal, sacrifício de Jesus na Cruz, que se entregou aos seus discípulos para que o fizessem em sua memória), Oração Sobre as Oferendas (conclui a preparação dos dons – pão e vinho – fruto do suor humano que são apresentados ao Senhor), Oração Eucarística (centro e ápice da celebração, prece de ação de graças e santificação. Exige-se silêncio, alguns elementos: Ação de graças, aclamação, epiclese, narrativa, anamnese, oblação, intercessões, doxologia), Rito da Comunhão (Corpo e Sangue de Cristo seja recebido pelas pessoas preparadas), A Oração do Senhor (pede a purificação dos pecados, a fim de que as coisas santas sejam verdadeiramente dignas de serem recebidas por nós), Rito da Paz (implora a paz e a comunhão eclesial, antes de comungar do Sacramento), Fração do Pão (gesto realizado por Cristo na última ceia, relembra-nos comunhão no único pão da vida, que é  o próprio Cristo), Comunhão (tanto o presbítero como o povo recebe o Corpo e Sangue de Cristo), Ritos de Encerramento (breves comunicações, saudação e benção, despedida do povo, beijo no altar).[3]

            Considerações finais sobre o rito e a utilização de multimídia

            Como vimos acima a missa possui uma estrutura e esta é acompanhada de alguns elementos que podem ou não ajudar: folhetos ou multimídia. E é sobre isso que vamos falar agora: Quando usar o multimídia, em que momentos?
            Diante do que percebemos na descrição do rito da missa, há momento para o povo responder, há momentos para silenciar e há momentos para contemplar.
            Assim, seguem-se algumas sugestões para ajudar a viver melhor o Mistério na liturgia:
1)      Uso de Multimídia: Entrada, Oração Universal, Ritos de Encerramento e durante os cantos, ou numa para-liturgia (eventual).
2)      Momento de silêncio/contemplação (ouvir/rezar no coração):, Liturgia da Palavra, Liturgia Eucarística, Sobre as Oferendas, Oração Eucarística, , Comunhão, Ritos de Encerramento.
3)      Expressão (participação dizível): Saudação, Ato Penitencial, Glória a Deus nas alturas, Profissão de fé, Oração Universal, Oração do Senhor, Rito da Paz, Ritos de Encerramento. Obs.: E os amém (s) em outros momentos.

            Diante do que foi descrito, qual a finalidade de tentar expressar aqui sistematicamente os momentos? Justamente para nos ajudar a rezarmos com mais qualidade. Os gregos, principalmente na filosofia Platônica, almejavam a ideia do belo, do justo e do verdadeiro, Aristóteles dizia da busca humana pela felicidade (eudaimonia). Assim, ao celebrarmos o Mistério, nos deparamos com todas essas realidades apresentadas pelos sábios gregos. Em Cristo está a nossa realização, mas pra tudo na vida há ambiências diferentes. Da mesma forma que num velório implica “um momento fúnebre”, o aniversário denota “alegria, festa”, ao nos prepararmos para dormir “silêncio”, o Mistério por meio da liturgia pede-nos  “respeito pelos diversos momentos nele contidos”.
            Portanto, o uso de multimídia na celebração pode “ser bom” quando respeita as normas litúrgicas e “mau” quando não colabora para a vivência do Mistério dentro do culto. Saibamos utilizar com prudência que certamente os frutos virão ao seu tempo.


[1]    CEC, 33
[2]    VD, 53
[3]    Basei-me em: ________, Introdução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário (CNBB), p.49-67.

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