O "aleluia"
referente à procissão do Evangelho
Para acompanhar a procissão do Evangelho, a liturgia propõe o canto do Aleluia (ou de uma outra aclamação durante a Quaresma) e versículos, anunciando o Evangelho. Alleluia é a adaptação do hebraico Halelu-Yah que significa Louvai-Yah(vé). Por seu caráter alegre e triunfante, o Aleluia evoca o canto da Igreja resgatada. Constitui-se como uma alegre aclamação pascal a Cristo, e acompanha a procissão solene do Evangeliário e a vinda do Senhor pela Palavra.
Tradição Bíblica
Esse convite ao louvor
lê-se nos salmos ditos aleluiáicos – trata-se dos Sl 104-106(105-107),
110-113(111-114), 115-117(116-118), 134-135(135-136), 145(146)-150 – entre os
quais fazem parte do Hallel – 112-117(113-118) – que o Cristo recitou na última
ceia. O aleluia não precisa, pois,
mendigar o direito de entrar na liturgia da missa: ele aí se encontra “em casa”
desde a primeira eucaristia, e foi o Senhor mesmo quem o introduziu.
Em sua Nínive de
tristeza para onde havia sido deportado, Tobias o Ancião não cessa de sonhar
com uma Jerusalém onde as próprias casas cantarão aleluia.
“As
portas de Jerusalém farão ressoar cânticos de alegria,
e
todas as suas casas dirão: Aleluia! Bendito seja o Deus de Israel!” (Tb 13,17).
No Novo Testamento,
lê-se o Aleluia no fim do livro do Apocalipse, no canto de triunfo dos
resgatados da terra. Aleluia é como que o refrão que dá ritmo à aclamação:
“Ouvi
como que a voz de uma imensa multidão no céu que clamava:
Aleluia!
A
salvação, a glória e o poder são do nosso Deus.
Sim,
verdadeiros e justos são seus julgamentos.
Aleluia!
(...)
Os vinte e quatro
anciões e os quatro seres vivos se prostraram e adoraram o Deus que está
sentado no trono, dizendo: Amém! Aleluia!. Ouvi depois como que o rumor de uma
grande multidão, semelhante ao fragor das águas torrenciais e ao ribombar de
fortes trovões, aclamando:
Aleluia! Pois reina o
Senhor nosso Deus, o Todo-poderoso.
Alegremo-nos
e exultemos, demos-lhe glória,
pois
aí estão as núpcias do Cordeiro” (Ap 19,1-4.6).
Tradição
Litúrgica
É, portanto, a partir da
liturgia do céu que se relaciona o Aleluia
da aclamação ao Evangelho. Cabe a música, à composição melódica, criar um clima
de esplendor e exultação, tornando o canto do aleluia uma verdadeira aclamação a Cristo que triunfalmente passa
por entre os seus para anunciar-lhes Palavra de vida eterna. A procissão, as velas, o incenso, as flores, as danças, tudo isso de nada serviria se a música
não fosse festiva e alegre.
Segundo pe. Gelineau,
grande liturgista musical do início da reforma litúrgica, o Aleluia é “uma
aclamação pascal ao Verbo de Deus, um “Viva Deus”; um grito que resume todo
louvor. É um brado de vitória e salvação, grito de admiração e alegria, grito de
fé e de amor, grito de ação de graças do povo eternamente salvo”[1].
O anúncio do Evangelho,
por sua importância em relação às outras leituras, merece uma distinção
especial: toda a assembleia põe-se de pé e canta exaltando a Cristo presente
que vai falar, enquanto o diácono ou padre, com o livro dos Evangelhos erguido
solenemente se encaminha processionalmente (acompanhado por acólitos ou
coroinhas com velas e, eventualmente turíbulo) para deixar Cristo falar, ou
seja, proclamar o Evangelho da salvação. Na quaresma, as demais formas de
aclamação que substituem o aleluia desempenham uma função idêntica.
Sugestões pastorais[2]
Quem canta? É um canto
iniciado por todos. O coral ou o solista executa o versículo após o Aleluia e o
povo repete a aclamação. Para solenizar mais, é possível ao coral cantar a mais
vozes na resposta do aleluia, sobrepondo-se ao canto do povo para enriquecê-lo
harmonicamente e dar um sentido de plenitude. O ritmo pode ser mais marcado,
por ser uma procissão e uma aclamação. O clima geral que o canto deve despertar
será de expectativa, prontidão... pois o Senhor vai falar.
Qualquer aclamação deve ser
sempre um canto vibrante e alegre, ainda mais em se tratando da aclamação
pascal do aleluia. A música, a melodia e instrumentos deverá expressar o
entusiasmo de um povo que dá um “viva” a seu herói, de uma multidão que “vibra”
torcendo num estádio pelo time de seu coração, à semelhança dos grandes salmos
de aclamação e de louvor a Deus-Rei-Salvador.
Os instrumentos tem
grande papel neste canto para comunicar exultação, alegria, entusiasmo,
plenitude. Se no salmo responsorial os instrumentos tinham como função apenas
de sustentação, levando à meditação, aqui seu papel é preponderante. O canto e
a melodia deverá ser forte (até fortíssimo!) quando o povo canta; menos forte
quando o solista ou o coral canta o refrão.
É um dos cantos mais
breves da missa. Canta-se durante a procissão do Evangelho. Se sobrar tempo, os
instrumentos poderão preencher o tempo com um poslúdio bem feito.
[1] GELINEAU, Joseph. Canto
e música no culto cristão – princípios, leis e aplicações. Tradução de
Maria Luiza Amarante. Petrópolis:
Vozes, 1968.
[2] CNBB, Estudo
sobre os cantos da missa. Coleção “Estudos da CNBB nº 12), São Paulo,
Paulinas, 1978. Para aprofundamento das características do canto do Aleluia,
convém retomar as páginas 58-71 e observar os exemplos apresentados.
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