terça-feira, 22 de maio de 2012

O canto do "Aleluia" no momento da aclamação a Cristo no Evangelho


O "aleluia" referente à procissão do Evangelho

 












Para acompanhar a procissão do Evangelho, a liturgia propõe o canto do Aleluia (ou de uma outra aclamação durante a Quaresma) e versículos, anunciando o Evangelho. Alleluia é a adaptação do hebraico Halelu-Yah que significa Louvai-Yah(vé). Por seu caráter alegre e triunfante, o Aleluia evoca o canto da Igreja resgatada. Constitui-se como uma alegre aclamação pascal a Cristo, e acompanha a procissão solene do Evangeliário e a vinda do Senhor pela Palavra.

Tradição Bíblica
Esse convite ao louvor lê-se nos salmos ditos aleluiáicos – trata-se dos Sl 104-106(105-107), 110-113(111-114), 115-117(116-118), 134-135(135-136), 145(146)-150 – entre os quais fazem parte do Hallel – 112-117(113-118) – que o Cristo recitou na última ceia. O aleluia não precisa, pois, mendigar o direito de entrar na liturgia da missa: ele aí se encontra “em casa” desde a primeira eucaristia, e foi o Senhor mesmo quem o introduziu.

Em sua Nínive de tristeza para onde havia sido deportado, Tobias o Ancião não cessa de sonhar com uma Jerusalém onde as próprias casas cantarão aleluia.
            “As portas de Jerusalém farão ressoar cânticos de alegria,
            e todas as suas casas dirão: Aleluia! Bendito seja o Deus de Israel!” (Tb 13,17).

No Novo Testamento, lê-se o Aleluia no fim do livro do Apocalipse, no canto de triunfo dos resgatados da terra. Aleluia é como que o refrão que dá ritmo à aclamação:
            “Ouvi como que a voz de uma imensa multidão no céu que clamava:
            Aleluia!
            A salvação, a glória e o poder são do nosso Deus.
            Sim, verdadeiros e justos são seus julgamentos.
            Aleluia! (...)
Os vinte e quatro anciões e os quatro seres vivos se prostraram e adoraram o Deus que está sentado no trono, dizendo: Amém! Aleluia!. Ouvi depois como que o rumor de uma grande multidão, semelhante ao fragor das águas torrenciais e ao ribombar de fortes trovões, aclamando:
Aleluia! Pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-poderoso.
            Alegremo-nos e exultemos, demos-lhe glória,
            pois aí estão as núpcias do Cordeiro” (Ap 19,1-4.6).

Tradição Litúrgica
É, portanto, a partir da liturgia do céu que se relaciona o Aleluia da aclamação ao Evangelho. Cabe a música, à composição melódica, criar um clima de esplendor e exultação, tornando o canto do aleluia uma verdadeira aclamação a Cristo que triunfalmente passa por entre os seus para anunciar-lhes Palavra de vida eterna. A procissão, as velas, o incenso, as flores, as danças, tudo isso de nada serviria se a música não fosse festiva e alegre.
Segundo pe. Gelineau, grande liturgista musical do início da reforma litúrgica, o Aleluia é “uma aclamação pascal ao Verbo de Deus, um “Viva Deus”; um grito que resume todo louvor. É um brado de vitória e salvação, grito de admiração e alegria, grito de fé e de amor, grito de ação de graças do povo eternamente salvo”[1].
O anúncio do Evangelho, por sua importância em relação às outras leituras, merece uma distinção especial: toda a assembleia põe-se de pé e canta exaltando a Cristo presente que vai falar, enquanto o diácono ou padre, com o livro dos Evangelhos erguido solenemente se encaminha processionalmente (acompanhado por acólitos ou coroinhas com velas e, eventualmente turíbulo) para deixar Cristo falar, ou seja, proclamar o Evangelho da salvação. Na quaresma, as demais formas de aclamação que substituem o aleluia desempenham uma função idêntica.

Sugestões pastorais[2]
Quem canta? É um canto iniciado por todos. O coral ou o solista executa o versículo após o Aleluia e o povo repete a aclamação. Para solenizar mais, é possível ao coral cantar a mais vozes na resposta do aleluia, sobrepondo-se ao canto do povo para enriquecê-lo harmonicamente e dar um sentido de plenitude. O ritmo pode ser mais marcado, por ser uma procissão e uma aclamação. O clima geral que o canto deve despertar será de expectativa, prontidão... pois o Senhor vai falar.
Qualquer aclamação deve ser sempre um canto vibrante e alegre, ainda mais em se tratando da aclamação pascal do aleluia. A música, a melodia e instrumentos deverá expressar o entusiasmo de um povo que dá um “viva” a seu herói, de uma multidão que “vibra” torcendo num estádio pelo time de seu coração, à semelhança dos grandes salmos de aclamação e de louvor a Deus-Rei-Salvador.
Os instrumentos tem grande papel neste canto para comunicar exultação, alegria, entusiasmo, plenitude. Se no salmo responsorial os instrumentos tinham como função apenas de sustentação, levando à meditação, aqui seu papel é preponderante. O canto e a melodia deverá ser forte (até fortíssimo!) quando o povo canta; menos forte quando o solista ou o coral canta o refrão.
É um dos cantos mais breves da missa. Canta-se durante a procissão do Evangelho. Se sobrar tempo, os instrumentos poderão preencher o tempo com um poslúdio bem feito.


[1] GELINEAU, Joseph. Canto e música no culto cristão – princípios, leis e aplicações. Tradução de Maria Luiza Amarante. Petrópolis: Vozes, 1968.
[2] CNBB, Estudo sobre os cantos da missa. Coleção “Estudos da CNBB nº 12), São Paulo, Paulinas, 1978. Para aprofundamento das características do canto do Aleluia, convém retomar as páginas 58-71 e observar os exemplos apresentados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário