terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Estudo sobre o canto das leituras na missa



Leitura cantada: dá para arriscar?



Prosseguindo nossa reflexão sobre os ritos próprios da Liturgia da Palavra na celebração Eucarística Dominical (e demais solenidades do ano), refletiremos neste mês sobre a possibilidade do canto das leituras. Seguindo as indicações contidas no Ordenamento das Leituras da Missa, “o que mais contribui para uma adequada comunicação da Palavra de Deus à assembleia, por meio das leituras, é a própria maneira de proclamar dos leitores, que devem fazê-lo em voz alta e clara, tendo conhecimento do que lêem. Todavia, podem ser cantadas, mas de tal forma que o canto não obscureça as palavras, mas as esclareça” (Introdução ao Lecionário nº 14).
Refletindo acerca do que o ordenamento litúrgico prescreve, penso que 3 pressupostos devam ser considerados:
        nem todo gênero literário é condizente com o canto. Se um poema se torna muito mais eloquente pelo canto suave, a narração de fatos ou as severas exortações contidas nas cartas de Paulo nem sempre se harmonizarão com o canto;
         nem todo leitor é um bom cantor. É preferível uma excelente leitura proclamada do que um péssimo texto bíblico cantado – mesmo que o gênero literário permitisse o canto. Mas, atenção: tal argumento não é impediente para se cantar; ao contrário: tal pressuposto é exortativo para se escolher um leitor que também seja dotado das qualidades musicais necessárias para valorizar ainda mais uma leitura que permita ser cantada.  
         se o ordenamento litúrgico prevê esta possibilidade – e nossa prática ritual ainda não a assimilou – o momento atual da caminhada litúrgica pós-conciliar pede maior esforço de nossas equipes paroquiais de liturgia para ousarem na preparação das celebrações, no conhecimento minucioso das leituras bíblicas propostas para a liturgia e na capacitação de ministros que possam desempenhar esta nova forma de proclamação da Palavra de Deus, realçando ainda mais o mistério de Deus que se deseja fazer experimentar a comunidade orante.

            Até aqui expomos o canto de toda a leitura como algo facultativo e muito bem executado segundo as exigências acima expostas. Todavia, a introdução ao Lecionário (que, insisto, é texto normativo para a celebração litúrgica no rito latino) também prescreve o canto para a introdução e a conclusão do Evangelho, mesmo quando o Evangelho for lido: “a saudação Proclamação do Evangelho de Nosso Senhor… e Palavra da salvação, ao terminar o Evangelho, é bom que se cantem para que o povo, por sua vez, possa aclamar do mesmo modo, mesmo quando o Evangelho for lido. Dessa forma, exprime-se a importância da leitura evangélica e se promove a fé dos ouvintes” (Introdução ao Lecionário nº 17). 
            Mas a Introdução vai além, quando determina em seu nº 18: “No final das leituras, a conclusão Palavra do Senhor pode ser cantada por um cantor, diferente do leitor que proclamou a leitura, e todos dizem a aclamação. Desse modo, a assembleia honra a Palavra de Deus recebida com fé e com espírito de ação de graças”. Observem a insistência do ordenamento litúrgico: se o leitor que proclamou a leitura não cantar, pode-se inclusive outro ministro, do seu lugar, junto aos músicos, entoar o convite à aclamação: “Palavra do Senhor”, para que a assembleia possa, por meio do canto, aclamar com maior intensidade a Deus que lhe enviou sua Palavra.
            Se a atitude celebrativa proposta pode “escandalizar alguns mais ortodoxos”, poder-se-ia conferir a sua prática nas celebrações da basílica vaticana por qualquer meio de comunicação. Sempre um cantor entoa a aclamação conclusiva da leitura após o leitor terminar sua proclamação do ambão. Se quisermos honrar o Domingo como a grande solenidade semanal do Senhor, tal “sugestão normativa” poderá ser tranquilamente implantada em nossas celebrações paroquiais. Eis também, mais uma proposta para aplicarmos as prescrições pós-conciliares na comemoração dos 50 anos da Sacrosanctum Concilium.