Exposição do Evangeliário sobre o altar
O rito
O Missal prevê a
deposição do Evangeliário sobre o altar antes da proclamação do Evangelho. Essa
deposição equivale praticamente a uma “entronização” (semelhante à “exposição”
do Santíssimo Sacramento sobre o altar). Duas soluções são propostas:
1.
O
Evangeliário é deposto sobre o altar antes da celebração eucarística.
2.
É
deposto no início da celebração pelo leitor ou o diácono que o transportaram
durante a procissão de entrada. (IGMR 79, 82 c, 84 e 129). Preferível.
A melhor solução sob o
ponto de vista do plano litúrgico e que tem a preferência do missal é a
seguinte: a comunidade dispõe de um Lecionário e de um Evangeliário; o
Lecionário é colocado no ambão antes da missa (IGMR 80); o Evangeliário é levado em procissão pelo diácono ou, em sua
falta, pelo primeiro leitor e colocado sobre o altar, de onde será tirado para
a proclamação do Evangelho pelo próprio diácono ou pelo presidente da
celebração.
Seu significado
Qual o significado desse
rito? Essa deposição sobre o altar confere ao Evangeliário uma honra
excepcional. Na tradição litúrgica, o altar é, com efeito:
“O sinal do próprio
Cristo, o lugar onde se realizam os mistérios da salvação e como que o centro
da assembleia dos fiéis, ao qual se deve o maior respeito. O centro da ação de
graças que se realiza plenamente pela Eucaristia” (IGMR 259)
O novo ritual para a
consagração das igrejas resume o ensinamento da tradição cristã nessa máxima: Altare Christus est, “o altar é o Cristo”.
Outrossim, até os séculos IX e X, somente a Eucaristia e o Evangeliário gozavam
do privilégio de serem depositados sobre o altar. Conforme antigos rituais de
consagração dos altares, o bispo dispunha os inícios dos quatro Evangelhos
sobre o altar. Sabe-se também que, por ocasião dos Concílios, o Evangeliário
era e é solenemente entronizado sobre o altar, como que para significar que o
Cristo em pessoa presidia a assembleia reunida em seu nome. A respeito do
terceiro concílio ecumênico de Éfeso, em 431, Cirilo de Alexandria atesta:
“O
santo Sínodo, reunido na igreja dedicada a Maria, instituiu de certo modo o
Cristo como membro e cabeça do Concílio. Com efeito, o venerável Evangelho foi
colocado num trono”.
O significado desses
ritos é claro. Quando o diácono ou sacerdote tira o Evangeliário de cima do
altar, sinal do Cristo, dá a entender de modo magnífico que as palavras que vai
proclamar não são suas, mas de Jesus. “O Cristo fala, diz o Concílio (SC 7),
enquanto se lêem as santas Escrituras”. É essa afirmação que o rito de
exposição do Evangelho salienta majestosamente.
O altar é também o
centro da assembléia celebrante. É pois nesse centro que se enraíza a palavra
de Jesus. É desse centro que ela se irradia sobre a comunidade.
Particularmente
significativa é a exposição do Evangelho antes da celebração: os fiéis, ao
entrarem na igreja, são assim de certo modo acolhidos pelo Cristo. Nesse
espírito é que certas comunidades conservam o Evangeliário entronizado no
altar, mesmo fora das ocasiões de celebração. Seria excelente, que esse costume
se generalizasse no nosso rito romano, cumprindo inclusive um mandato de nosso
atual pontífice Bento XVI: “Os espaços sagrados, mesmo fora da ação litúrgica,
revistam-se de eloqüência, apresentando o mistério cristão relacionado com a
Palavra de Deus, dando-se atenção especial ao ambão, enquanto local litúrgico
donde serão proclamadas as leituras. Além disso, os padres sinodais sugerem
que, nas igrejas, haja um local de honra onde se possa colocar a Sagrada
Escritura mesmo fora da celebração. Realmente é bom que o livro onde está
contida a palavra de Deus tenha dentro do templo cristão um lugar visível e de
honra, mas sem tirar a centralidade que compete ao sacrário que contém o
santíssimo sacramento” (VD 68). Uma alternativa seria ter junto à entrada
principal de nossas Igrejas um espaço estável, digno e belo que expusesse o
Evangeliário diuturnamente, e deste local transladado pelo diácono ou pelo
leitor no início das celebrações dominicais até o altar.
Esse significado é tanto
mais eloquente quanto, conforme a antiga tradição, só se depõe sobre o altar o
livro dos Evangelhos e o Corpo eucarístico do Senhor. Logo, com muito maior
razão é preciso retirar do altar os objetos que nada tem a fazer ali, como as
galhetas de água e vinho com a bandeja para lavar as mãos, o manustérgio, etc.
Segue o testemunho de
padre Lucien Diens: “Encontrava-me em Assiout, no Médio Egito, para um encontro
bíblico. O bispo, de rito copta, convidou-me um dia para visitar sua catedral.
Aceitei de boa vontade. Era uma igreja de belas proporções, sem ênfase
arquitetônica. Quando entrávamos e nos aproximavamos do altar, o bispo me disse
com delicadeza: “Para a visita, o senhor pode tirar seus sapatos”. Eu já o
havia tirado discretamente, porque sabia que os cristãos coptas só entram no
santuário com os pés descalços. Entramos então, demos uma volta ao redor do
altar, com reverência. Um menino, carregando uma cruz, nos precedia, como se
fosse uma celebração litúrgica. Saimos depois do santuário, caminhando de
costas, pois, conforme a tradição copta, o padre, por deferência, tem sempre
sua face voltada para o altar, nunca as costas. Não quero dizer que é preciso
“coptizar” nossa liturgia romana. Ela tem sua beleza particular, entretecida de
sobriedade e limpidez. Mas podemos deixar-nos instruir com utilidade pelo
espírito das liturgias orientais. Em contato com elas, podemos vivificar a
veneração devida ao altar, sinal do Cristo e centro da comunidade celebrante. É
claro que o simbolismo tão expressivo do Evangeliário sobre o altar só exprime
seu forte significado, quando o simbolismo do próprio altar é posto em foco em
primeiro lugar”.
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