Papa Paulo VI entronizando o livro dos Santos Evangelhos durante o Concílio Ecumênico Vaticano II |
Palavra e Eucaristia
Embasamento Teológico para as implicações litúrgicas da relação entre Palavra proclamada e a celebração da Eucaristia
distinção entre "presença real" e "presença substancial"
culto de adoração a Eucaristia; culto de veneração a Palavra
culto de adoração a Eucaristia; culto de veneração a Palavra
A Palavra de Deus é presença real de Jesus Cristo! Uma afirmação desta ordem pode surpreender. A adoração devida à Eucaristia não deve ser, ao pé da
letra, incomparável? A devoção cristã não esteve sempre voltada, como que
atraída, para o “Santíssimo Sacramento”? De fato, ninguém ousaria fazer uma tal
afirmação se ela não tivesse sido um ensinamento explícito do Concílio Vaticano
II:
“A
Igreja sempre venerou a Sagrada Escritura da mesma forma como o próprio Corpo
do Senhor, ela que não cessa, sobretudo na Sagrada Liturgia, de receber o Pão
da vida na mesa da Palavra e sobre a mesa do corpo do Cristo, para oferecê-lo
aos fiéis” (DV 21).
A Palavra de
Deus é, portanto, tão venerável quanto o Corpo Eucarístico de Jesus Cristo. Quem
“comunga” da Palavra, como aquele que comunga da Eucaristia, comunga do mesmo
Senhor. E a veneração que é devida à Palavra, como a que é devida à Eucaristia,
é a mesma que é devida a Cristo Jesus.
De fato, o ensinamento
do Vaticano II, que pode assustar – como dizíamos acima – , surpreendeu até
mesmo alguns Padres conciliares. Muitas emendas foram propostas ao texto
conciliar. Censuravam-no por “assemelhar muito” (nimis assimilare) Palavra e
Eucaristia. Temia-se que a veneração pela Palavra fosse fazer sombra à devoção
para com a Eucaristia. Estas emendas foram todas rejeitadas. Com razão. Porque
o Concílio não fazia outra coisa senão retornar o ensinamento constante da
tradição e da teologia cristãs.
Neste
horizonte é bom ampliar a reflexão com as palavras de Bento XVI na Verbum Domini 55, que por sua vez
recorda as palavras da Introdução geral do Lecionário: “à palavra de Deus e ao
mistério eucarístico a Igreja tributou, quis e estabeleceu que, sempre, e em
todo lugar, se tributasse a mesma veneração embora não o mesmo culto”. Isso
significa que a veneração é a mesma: Cristo presente; mas o culto é diverso,
pois, enquanto na Eucaristia a presença de Cristo é substancial (a substância
do pão deixa de existir para dar lugar à substancia de Cristo, mesmo
permanecendo a sua forma de pão), na Palavra não. Consequência prática deste
princípio teológico é a adoração que prestamos às espécies eucarísticas,
presença real e substancial de Cristo; e a veneração ao livro e à palavra
proclamada, que não são objetos de culto de adoração (como a Eucaristia) por
não serem presença substancial, mesmo que real. Veneramos igualmente Palavra e
Eucaristia por serem Cristo presente; com o diferencial culto de adoração à
Eucaristia por se tornar a substância de sua presença.Esta reflexão será importantíssima para as conclusões litúrgicas que dela derivarão... continua...
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