É de grande importância a presença de UMA cruz visível aos fiéis durante as celebrações litúrgicas.
A Celebração da Eucaristia é uma "atualização memorial", torna presente o mistério da entrega que Jesus faz de sua vida para que nós tivéssemos vida.
Seres humanos que somos, necessitados de símbolos que nos ajudem a "enxergar" o mistério que celebramos, precisamos da imagem da cruz - não para cultuarmos a imagem de um Deus morto, nem mesmo para nos prendermos apenas ao aspecto do sofrimento, da dor e da morte, mas para visibilizar a "entrega" do Senhor: "assim como eu vos amei, também vós devereis vos amar uns aos outros", com a mesma radicalidade, abraçando até as últimas consequências de fidelidade ao projeto do Pai ao nosso respeito, porque "Ele nos amou por primeiro!". Só conseguirá amar como Ele amou, aquele que se aproximar da ceia eucarística. Por isso o altar, que também é símbolo da cruz - pois nele o Senhor continua a se entregar a nós - também é sinal de banquete de festa, de alegre refeição ao redor do Mestre que nos orienta, corrige e alimenta pela celebração eucarística (com as "mesas" da Palavra e do Pão Eucarístico).
Logo, a cruz e o altar deverão, pelo seu formato, pela sua proximidade e pelo seu uso, recordar estas duas realidades que não se excluem mas se complementam: é a paixão salvadora e amorosa do Salvador que se atualiza no altar (para se atualizar também em nossa vida); é a ceia, banquete, a Festa da Vida que nos revigora em nosso compromisso de vivermos aquilo que no altar celebramos: a Páscoa de Cristo que deverá fortalecer as nossas diversas Páscoas (as passagens do pecado para a graça; do egoísmo para a amizade desinteressada; do individualismo para a alteridade, etc.)
Consequências práticas...
O mistério pascal é único, assim como deve ser único o sinal que o recorda. É errôneo manter em um mesmo espaço celebrativo mais de uma cruz. Até mesmo um costume que se tem popularizado de "uma cruz voltada para o povo, uma cruz voltada para o padre" é uma prática equivocada, e pesa a favor deste argumento os princípios celebrativos da Igreja de Roma: uma única cruz, e esta, no caso da liturgia daquela Igreja, voltada para quem preside. A cruz processional, ao término de sua função - abrir a procissão de abertura da celebração - é recolhida.
Pesam também a favor deste argumento os princípios enunciados nos documentos da Igreja. Ei-los:
Cerimonial dos Bispos, cerimonial da Igreja (129): ao tratar da cruz processional: "É de louvar que a cruz processional fique erguida junto do altar; de modo a ser a própria cruz do altar [e, consequentemente, única no espaço celebrativo]; caso contrário [se há uma outra cruz presente neste espaço], a cruz processional será retirada.
Introdução geral do Missal Romano
(268): ao tratar da celebração Eucarística como banquete: "Em reverência para com a celebração do memorial do Senhor e o Banquete em que se comungam o seu Corpo e o seu Sangue, ponha-se sobre o altar ao menos uma toalha, que combne, por seu formato, tamanho e decoração, com a forma do mesmo altar". Interessante neste tópico que se respeite o formato do altar. O que é mais importante: o altar ou a toalha que sobre ele se coloca? Logo, a toalha precisa valorizar o altar, nunca escondê-lo. A simplicidade é mais eloquente do que o esbanjamento.
(269): ao tratar dos castiçais sobre ou junto ao altar: "Os castiçais requeridos pelas ações litúrgicas para manifestarem nossa reverência e o caráter festivo da celebração, sejam colocados, como parecer melhor: sobre o altar ou junto dele, levando em conta as proporções do altar e do presbitério, de modo a formarem um conjunto harmonioso e que não impeça os fiéis de verem aquilo que se realiza ou se coloca sobre o altar". Uma coisa é ter uma igreja, um presbítério e um altar com as dimensões da basílica vaticana ou a catedral de Taubaté; outra coisa é termos um altar mais modesto em dimensões e que necessita de uma toalha, castiçais e cruz que também respeitem a característica própria daquele espaço celebrativo. Bom senso é sumamente necessário para se discernir: quantidade de castiçais, o tamanho dos mesmos e também a sua posição: sobre o altar ou ao seu redor. Os critérios que deverão nortear a opção feita nunca poderão ser o gosto pessoal do responsável da comunidade ou "modismos litúrgicos" seja da atualidade ou seja do passado. O nº 269 da IGMR nos apresenta tais critérios: "formar um conjunto harmonioso" e "não impedir os fiéis de verem aquilo que se realiza ou se coloca sobre o altar": Evangeliário, pão e vinho.
Quanto ao número de castiçais, a IGMR também apresenta suas recomendações: (79) "Sobre o altar ou ao seu redor, coloquem-se no mínimo 2 castiçaiscom velas acesas, ou então quatro ou seis. Quando celebrar o Bispo diocesano, colocam-se sete. Haja também uma cruz sobre o altar ou perto dele. Os castiçais e a cruz podem ser trazidos na procissão de entrada". Ou seja, para a celebração da Eucaristia, prescreve-se 2 velas. Se a estrutura da igreja, presbitério e altar permitir, nas solenidades maiores, pode-se colocar 4 ou 6 velas, seja sobre, seja próximo ao altar. Sete velas deverá ser colocada somente quando o Bispo diocesano presidir - honrando a plenitude do sacerdócio de Cristo presente nele. Contudo, se a estrutura do espaço celebrativo não permite, prefira-se a bela sobriedade de apenas 2 velas mesmo com a presença do Bispo do que 7 velas que escondem a beleza do local e do mistério que aí se celebra.
(270): ao tratar da cruz: "Haja também sobre o altar ou perto dele UMA cruz que seja bem visível para a assembleia reunida". Mais uma vez recorde-se a "regra de ouro" do bom senso: Haja UMA única cruz no espaço celebrativo, e que esta seja valorizada, seja por suas dimensões - sempre buscando o equilíbrio com todo o espaço e demais objetos nele presentes - e que esteja ou sobre o altar, ou perto dele.
O nº 236 da IGMR ainda prescreve que "se a cruz estiver sobre o altar ou junto dele [logo, NUNCA uma cruz "sobre" o altar e outra "junto dele", mas sempre "ou" sobre, "ou" perto], é incensada antes do altar; se estiver atrás dele, o sacerdote a incensa quando passa diante dela".
Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde Senhor Jesus!
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