Leitura cantada: dá para
arriscar?
Prosseguindo
nossa reflexão sobre os ritos próprios da Liturgia da Palavra na celebração
Eucarística Dominical (e demais solenidades do ano), refletiremos neste mês
sobre a possibilidade do canto das leituras. Seguindo as indicações contidas no
Ordenamento das Leituras da Missa, “o que mais contribui para uma
adequada comunicação da Palavra de Deus à assembleia, por meio das leituras, é
a própria maneira de proclamar dos leitores, que devem fazê-lo em voz alta e
clara, tendo conhecimento do que lêem. Todavia, podem ser cantadas, mas de tal
forma que o canto não obscureça as palavras, mas as esclareça” (Introdução ao Lecionário nº 14).
Refletindo
acerca do que o ordenamento litúrgico prescreve, penso que 3 pressupostos devam
ser considerados:
1º nem todo gênero literário é condizente
com o canto. Se um poema se torna muito mais eloquente pelo canto suave, a
narração de fatos ou as severas exortações contidas nas cartas de Paulo nem
sempre se harmonizarão com o canto;
2º nem todo leitor é um bom cantor. É
preferível uma excelente leitura proclamada do que um péssimo texto bíblico
cantado – mesmo que o gênero literário permitisse o canto. Mas, atenção: tal
argumento não é impediente para se cantar; ao contrário: tal pressuposto é
exortativo para se escolher um leitor que também seja dotado das qualidades
musicais necessárias para valorizar ainda mais uma leitura que permita ser
cantada.
3º se o ordenamento litúrgico prevê esta
possibilidade – e nossa prática ritual ainda não a assimilou – o momento atual
da caminhada litúrgica pós-conciliar pede maior esforço de nossas equipes
paroquiais de liturgia para ousarem na preparação das celebrações, no
conhecimento minucioso das leituras bíblicas propostas para a liturgia e na
capacitação de ministros que possam desempenhar esta nova forma de proclamação
da Palavra de Deus, realçando ainda mais o mistério de Deus que se deseja fazer
experimentar a comunidade orante.
Até
aqui expomos o canto de toda a leitura como algo facultativo e muito bem
executado segundo as exigências acima expostas. Todavia, a introdução ao
Lecionário (que, insisto, é texto normativo para a celebração litúrgica no rito
latino) também prescreve o canto para a introdução e a conclusão do Evangelho,
mesmo quando o Evangelho for lido: “a saudação Proclamação do Evangelho de Nosso Senhor… e Palavra da salvação, ao terminar o Evangelho, é bom que se cantem
para que o povo, por sua vez, possa aclamar do mesmo modo, mesmo quando o
Evangelho for lido. Dessa forma, exprime-se a importância da leitura evangélica
e se promove a fé dos ouvintes” (Introdução
ao Lecionário nº 17).
Mas
a Introdução vai além, quando
determina em seu nº 18: “No final das leituras, a conclusão Palavra do Senhor pode ser cantada por
um cantor, diferente do leitor que proclamou a leitura, e todos dizem a
aclamação. Desse modo, a assembleia honra a Palavra de Deus recebida com fé e
com espírito de ação de graças”. Observem a insistência do ordenamento
litúrgico: se o leitor que proclamou a leitura não cantar, pode-se inclusive
outro ministro, do seu lugar, junto aos músicos, entoar o convite à aclamação:
“Palavra do Senhor”, para que a
assembleia possa, por meio do canto, aclamar com maior intensidade a Deus que
lhe enviou sua Palavra.
Se
a atitude celebrativa proposta pode “escandalizar alguns mais ortodoxos”,
poder-se-ia conferir a sua prática nas celebrações da basílica vaticana por
qualquer meio de comunicação. Sempre um cantor entoa a aclamação conclusiva da
leitura após o leitor terminar sua proclamação do ambão. Se quisermos honrar o
Domingo como a grande solenidade semanal do Senhor, tal “sugestão normativa”
poderá ser tranquilamente implantada em nossas celebrações paroquiais. Eis também,
mais uma proposta para aplicarmos as prescrições pós-conciliares na comemoração
dos 50 anos da Sacrosanctum Concilium.
Nenhum comentário:
Postar um comentário