sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Mudanças no rito do Abraço da paz - II parte



O que mudou no abraço da paz?

Na última postagem iniciamos nossa reflexão acerca das orientações que Roma enviou a todas as Dioceses acerca do momento ritual da paz dentro da celebração Eucarística. Não poucos irmãos e irmãs interessados na liturgia da Igreja ainda estão se questionando: o que mudou? Eis algumas considerações:

1ª mudança: a Santa Sé nos presenteou com uma excelente reflexão teológica sobre o significado do abraço da paz tal qual está disposta em nosso rito latino: no momento dos preparativos para a comunhão sacramental. Durante os estudos sobre o rito do abraço da paz, cogitou-se a possibilidade de transferi-lo para antes da apresentação das oferendas, conforme o texto de Mt 5,23s: “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta”. Tal proposta não foi aceita pelos peritos em liturgia – e isto foi confirmado pelo Papa Francisco – porque a paz, em nosso rito latino, não é fruto de uma mera reconciliação entre irmãos; a paz é o primeiro Dom de Jesus Ressuscitado, que tão logo ao ressuscitar, pôs-se entre os discípulos e concedeu-lhes tão preciso dom: “A paz esteja convosco”. Em cada Eucaristia celebrada, antes de nos aproximarmos para comer e beber o Corpo e o Sangue do Senhor Ressuscitado, Ele renova, para a Sua Igreja, a concessão do dom da paz. É certo que a reconciliação entre os irmãos também deve existir como característica dos cristãos, mas esta reconciliação deverá ser consequência do encontro com Jesus Ressuscitado que nos garante a paz duradoura. 

2ª mudança: Se a primeira mudança foi muito teológica, teórica e densa, a segunda mudança entra no campo prático: será necessário que no momento de dar-se a paz se evitem alguns abusos tais como:
- A introdução de um “canto para a paz”, inexistente no Rito romano.
- Os deslocamentos dos fiéis para trocar a paz.
- Que o sacerdote abandone o altar para dar a paz a alguns fiéis.
- Que em algumas circunstâncias, como a solenidade de Páscoa ou de Natal, ou Confirmação, o Matrimônio, as sagradas Ordens, as Profissões religiosas ou as Exéquias, o dar-se a paz seja ocasião para felicitar ou expressar condolências entre os presentes.
Porque estas mudanças práticas são necessárias? Primeiro, em sinal de respeito pela sacralidade do momento em que este rito acontece: A Eucaristia já está presente sobre o altar. Em nossas igrejas e comunidades, sobretudo em nossa tradição latino-americana, este momento da celebração torna-se como um “intervalo” dentro da missa. Um momento de descontração e confraternização entre irmãos. Há tanta festa na troca de afetuosos abraços, música e palmas, deslocamentos inclusive entre os ministros do Altar, que em não poucas situações a Eucaristia fica como que “esquecida” sobre o altar. A intenção da Igreja com estas novas orientações é impedir que este momento de “descontração” aconteça, a fim de que se evidencie mais o caráter sagrado que o momento ritual exige: a presença sacramental do Senhor Jesus. Em segundo lugar, estas mudanças querem nos esclarecer uma premissa importante: neste momento da missa, nós não nos cumprimentamos “socialmente”. Não nos parabenizamos por alguma data significativa que seja celebrada naquela ocasião, não nos consolamos pelo falecimento de algum irmão, não expressamos votos de um bom Natal, ano novo ou Páscoa. Neste momento da celebração, eu devo ser para meu irmão a imagem e a presença de Cristo Ressuscitado que se dirige a ele para entregar-lhe o Dom da Paz nascido de sua morte e ressurreição. O gesto pode ser idêntico: dar-se as mãos, talvez um abraço ou mesmo um beijo na face; mas o significado é bem distinto: não o cumprimento por mim mesmo, mas sou para ele – bem como ele é para mim – a presença do sagrado, a presença, o calor, o afeto, a PAZ de Jesus Ressuscitado. Por isso não dizemos neste momento: meus parabéns; felicidades; meus sentimentos. Nós dizemos: “a paz do Senhor esteja contigo!”.

3ª mudança: Prosseguindo a reflexão teológica iniciada pela carta circular, quero deter-me agora sobre o rito do abraço de acolhida que acontece na conclusão dos ritos sacramentais próprio do Sacramento da Ordem. Conforme afirma as rubricas do Pontifical Romano, logo após a ordenação de um novo bispo, “o ordenado se levanta e recebe a saudação de paz do Ordenante principal e de todos os bispos” (Pontifical p. 80). Esta prescrição litúrgica é cumprida, via de regra, à risca nas ordenações episcopais: somente os bispos saúdam o novo bispo. O problema está nas ordenações presbiterais e diaconais. Em cada uma das ordenações, o abraço dado ao ordenado não quer ser uma ocasião de expressar os parabéns por uma vitória alcançada, nem mesmo desejar bons augúrios no exercício ministerial. Este abraço significa acolhida no grau da ordem recebida e, igualmente, acolhida do dom da paz. Por isso as rubricas do Pontifical assim se expressam na Ordenação Presbiteral: “por fim, o Bispo acolhe o ordenado para o abraço da paz. Os presbíteros presentes ou ao menos alguns deles, fazem o mesmo” (p. 132); e na Ordenação Diaconal: “por fim, o Bispo acolhe o ordenado para o abraço da paz. Os diáconos presentes ou ao menos alguns deles, fazem o mesmo” (p. 174). Isto daria mais sobriedade às ordenações e expressaria melhor o sentido teológico deste momento ritual. 

Mas, e o abraço carinhoso que o ordenado espera por anos receber de seus pais, familiares próximos e padrinhos, e, costumeiramente, é acompanhado de uma explosão de emoção por parte dos envolvidos no abraço e por toda a comunidade reunida? Uma possibilidade será transferi-lo como momento conclusivo dos agradecimentos do Ordenado, antes da benção final. Penso que este seria um contexto de desejar parabéns e expressar o carinho familiar, enquanto o momento ritual será ocasião para que o neo-ordenado se sinta parte de uma nova família espiritual que o acolhe como um irmão mais novo.
  



quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Oração para Sínodo Sobre Família - setembro, outubro de 2014



Secretaria do Sínodo publicou subsídio com as orações para que fiéis rezem pela próxima assembleia sinodal que será sobre a família

A Secretaria do Sínodo publicou um breve subsídio, em diversas línguas, com a Oração à Sagrada Família para o Sínodo, composta pelo Papa Francisco, e algumas intenções propostas para a oração dos fiéis. O último domingo do mês de setembro, dia 28, será dedicado à oração pela III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, marcada para o período 5 a 19 de outubro, no Vaticano, com o tema “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.
Um comunicado difundido pela Secretaria do Sínodo convida as dioceses, igrejas particulares, comunidades paroquiais, institutos de vida consagrada, associações e movimentos a rezarem nas celebrações eucarísticas e em outros momentos celebrativos, nos dias anteriores e durante os trabalhos sinodais.
Em Roma, a oração será feita todos os dias na Capela da Salus Populi Romani, da Basílica de Santa Maria Maior. A proposta é motivar os fiéis a orarem em intenção por todas as famílias.

Orações pelo Sínodo dos Bispos sobre família

I – Oração à Sagrada Família pelo Sínodo

Jesus, Maria e José
em vós nós contemplamos
o esplendor do verdadeiro amor,
a vós dirigimo-nos com confiança.
Sagrada Família de Nazaré,
faz também das nossas famílias
lugares de comunhão e cenáculos de oração,
autênticas escolas do Evangelho
e pequenas igrejas domésticas.
Sagrada Família de Nazaré,
nunca mais nas famílias se vivam experiências
de violência, fechamento e divisão:
quem quer que tenha sido ferido ou escandalizado
receba depressa consolação e cura.
Sagrada Família de Nazaré,
o próximo Sínodo dos Bispos
possa despertar de novo em todos a consciência
da índole sagrada e inviolável da família,
a sua beleza no desígnio de Deus.
Jesus, Maria e José
escutai, atendei a nossa súplica.

II – Oração dos fiéis para as missas dos dias 27 e 28 de setembro de 2014

PRES: Irmãos e irmãs! Como família dos filhos de Deus e animados pela fé, elevemos as nossas súplicas ao Pai, a fim de que as nossas famílias, sustentadas pela graça de Cristo, se tornem autênticas igrejas domésticas onde se vive e se dá o testemunho do amor de Deus.Oremos e, juntos, digamos:
TODOS: Senhor, abençoai e santificai as nossas famílias
Pelo Papa Francisco: que o Senhor, que o chamou a presidir à Igreja na caridade, o sustente no seu ministério ao serviço da unidade do Colégio episcopal e de todo o Povo de Deus, oremos:

Pelos Padres sinodais e pelos outros participantes na III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos: que o Espírito do Senhor ilumine as suas mentes, a fim de que a Igreja possa enfrentar os desafios sobre a família, em fidelidade ao desígnio de Deus, oremos:

Por aqueles que têm responsabilidades no governo das Nações: que o Espírito Santo inspire projetos que valorizem a família como célula fundamental da sociedade, segundo o desígnio divino e sustentem as famílias em situações difíceis, oremos:

Pelas famílias cristãs: que o Senhor, que pôs na comunhão esponsal o selo da sua presença, faça das nossas famílias cenáculos de oração, íntimas comunidades de vida e de amor, à imagem da Sagrada Família de Nazaré, oremos:

Pelos cônjuges em dificuldade: que o Senhor, rico em misericórdia, os acompanhe mediante a ação maternal da Igreja, com compreensão e paciência, no seu caminho de perdão e de reconciliação, oremos:

Pelas famílias que, por causa do Evangelho, devem deixar as suas terras: que o Senhor, que com Maria e José experimentou o exílio no Egito, os conforte com a sua graça e lhes abra caminhos de caridade fraternal e de solidariedade humana, oremos:

Pelos avós: que o Senhor, que foi recebido no Templo pelos Santos anciãos Simeão e Ana, os torne sábios colaboradores dos pais na transmissão da fé e na educação dos filhos, oremos:

Pelas crianças: que o Senhor da vida, que no seu ministério os acolheu, fazendo deles modelos para entrar no Reino dos Céus, suscite em todos o respeito pela vida nascente e inspire programas educativos em conformidade com a visão cristã da vida, oremos:

Pelos jovens: que o Senhor, que santificou as bodas de Caná, os leve a redescobrir a beleza da índole sagrada e inviolável da família no desígnio divino e sustente o caminho dos noivos que se preparam para o matrimônio, oremos:

PRES: Ó Deus, que não abandonais a obra das vossas mãos, escutai as nossas invocações: Enviai o Espírito do vosso Filho para iluminar a Igreja no início do caminho sinodal a fim de que, contemplando o esplendor do verdadeiro amor que resplandece na Sagrada Família de Nazaré, dela aprenda a liberdade e a obediência para enfrentar com audácia e misericórdia os desafios do mundo de hoje. Por Cristo nosso Senhor.

sábado, 6 de setembro de 2014

"mudanças" no rito do "abraço da paz" na Missa



O SIGNIFICADO RITUAL DO DOM DA PAZ NA MISSA
Comissão Diocesana de Liturgia – Diocese de Taubaté



No último dia 07 de junho, o Santo Padre, Papa Francisco, recebeu em audiência o prefeito da Congregação do Culto Divino e disciplina dos Sacramentos para juntos refletirem e deliberarem sobre o rito do abraço da paz durante a celebração Eucarística. Fruto de uma longa reflexão, iniciada no pontificado do Papa Bento XVI, o Santo Padre não “mudou” em nada o rito da paz tal qual ele consta no missal romano – apenas corrigiu excessos que se incutiram nas últimas décadas desde a reforma litúrgica, bem como nos apresenta uma belíssima reflexão sobre o significado do Dom da Paz que o Senhor Ressuscitado nos oferece em cada Eucaristia.
Na carta circular enviada às Conferências Episcopais no dia 08 de junho, em seu número 06, o prefeito da referida Congregação assim se exprime:
“O tema tratado é importante. Se os fiéis não compreendem e não demonstram viver, em seus gestos rituais, o significado correto do rito da paz, debilita-se o conceito cristão da paz e se vê afetada negativamente sua própria frutuosa participação na Eucaristia. Portanto, junto às precedentes reflexões (que serão trabalhadas em futuros artigos deste jornal), oferece-se algumas sugestões práticas:
a) Esclarece-se definitivamente que o rito da paz alcança já seu profundo significado com a oração e o oferecimento da paz no contexto da Eucaristia. O dar-se a paz corretamente entre os participantes na Missa enriquece seu significado e confere expressividade ao próprio rito. Portanto, é totalmente legítimo afirmar que não é necessário convidar “mecanicamente” para se dar a paz. Se se prevê que tal troca não se levará ao fim adequadamente por circunstâncias concretas, ou se retem pedagogicamente conveniente não realizá-lo em determinadas ocasiões, pode-se omitir, e inclusive, deve ser omitido.
b) De todos os modos, será necessário que no momento de dar-se a paz se evitem alguns abusos tais como:
- A introdução de um “canto para a paz”, inexistente no Rito romano.
- Os deslocamentos dos fiéis para trocar a paz.
- Que o sacerdote abandone o altar para dar a paz a alguns fiéis.
- Que em algumas circunstâncias, como a solenidade de Páscoa ou de Natal, ou Confirmação, o Matrimônio, as sagradas Ordens, as Profissões religiosas ou as Exéquias, o dar-se a paz seja ocasião para felicitar ou expressar condolências entre os presentes.
d) Convida-se igualmente a todas as Conferências dos bispos a preparar catequeses litúrgicas sobre o significado do rito da paz na liturgia romana e sobre seu correto desenvolvimento na celebração da Santa Missa. A este propósito, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos acompanha a presente carta com algumas pistas orientativas”.

Continua a carta circular, no número 03: “Na Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis o papa Bento XVI havia confiado a esta Congregação a tarefa de considerar a problemática referente ao sinal da paz, com o fim de salvaguardar o valor sagrado da celebração eucarística e o sentido do mistério no mundo da Comunhão sacramental: “A Eucaristia é por sua natureza sacramento da paz. Esta dimensão do Mistério eucarístico se expressa na celebração litúrgica de maneira específica com o gesto da paz. Trata-se indubitavelmente de um sinal de grande valor (cf. Jo 14, 28). Em nosso tempo, tão cheio de conflitos, este gesto adquire, também a partir ponto de vista da sensibilidade comum, um relevo especial, já que a Igreja sente cada vez mais como tarefa própria pedir a Deus o dom da paz e a unidade para si mesma e para toda a família humana. [...] Por isso se compreende a intensidade com que se vive frequentemente o rito da paz na celebração litúrgica. A este propósito, contudo, durante o Sínodo dos bispos se viu a conveniência de moderar este gesto, que pode adquirir expressões exageradas, provocando certa confusão na assembléia precisamente antes da Comunhão. Seria bom recordar que o alto valor do gesto não fica diminuído pela sobriedade necessária para manter um clima adequado à celebração, limitando por exemplo a troca da paz aos mais próximos”.
           
06 de setembro de 2014
Pe. Roger Matheus dos Santos